Voto de protesto ou palhaçada ?
andré luis felício[1]
O desdobramento dos números finais das eleições do último final de semana não pode ser considerado um “resultado”, mas sim uma “sequela”. Isso porque traduz um trauma naquilo que os cientistas corteses denominam politização popular. Se por um lado alguns canalhas voltam carregados nos ombros de currais eleitorais anematizados que merecem toda a miséria e subdesenvolvimento que os assola, a maioria desses tartufos e vigaristas conseguem se reeleger não em função de uma votação expressiva, mas sim apanhando “carona” na estupidez das massas, aproveitando-se da cultura protozoária de um povo de consciência virginal. Após haverem sido defenestrados dos seus mandatos pela prática de uma gama de crimes que vai do abuso do poder econômico até a genuína improbidade, voltam, “Ad nauseam”, com suas caras lavadas e caldas peludas abanando sobre o dinheiro público que pensam em abocanhar sob os auspícios da “Lei de Gerson” que elegeram como comezinho princípio de conduta funcional. E não é só, a preocupação maior é outra: o deputado federal mais votado não é um intelectual politizado ou, no mínimo, um cidadão preparado, mas sim, literalmente, um palhaço semi analfabeto, que denigre a própria casta quando se aventura em um cenário onde o riso não é fruto do espírito circense, mas sim consequência do alívio advindo da nefasta e não rara impunidade. O azarão submerge de uma categoria de pseudos políticos, que fizeram fama à custa de holofotes televisivos de programas populares que encontram na intelectualidade tênue e insípida, o esterco de sua existência. O deputado federal mais votado se mistura a pagodeiros, prostitutas e “boleiros”, que acreditam poder contribuir para os rumos da oitava economia do mundo, com uma simples alfabetização “funcional” onde o ato de escrever o nome é puramente mecânico e ensaiado. Além da carona de suas legendas esses sujeitos acéfalos em ideologia “chegam lá” graças a votos travestidos de um “protesto” que nada se assemelha à real acepção da palavra. Segundo o dicionário Houaiss, protesto constitui-se em um “grito, brado de repulsa ou de não-concordância com algo”. Ora, se você não possui tendências masoquistas, a tendência natural e instintiva é a de repelir os afastar-se daquilo que não gosta ou concorda. No caso de eleições isso se daria abstendo-se de escolher. Assim, votar em branco é protesto, anular o voto é protesto...dar tiro no próprio pé não é protesto. A frase “A única diferença entre sabedoria e estupidez é que a primeira é limitada” nunca foi tão atual. É assim que milhares de eleitores energúmenos justificam sua afinidade com a palermice de concorrentes despreparados, fazendo-o através de um pseudo piquete intelectual que, orgulhosamente, chamam de “protesto”. Pior de tudo é que um desconfortante antagonismo aponta uma batalha desigual de votos entre os dois mais votados candidatos na seara federal: “Tiririca” versus Chalita... o palhaço versus o educador! Gabriel Chalita, catedrático de renome, queridinho das professoras, negligenciado e subestimado pelo seu antigo partido, chega à mesma câmara federal de “Tiririca”, trazendo na bagagem não anedotas idiotas como aquelas apresentadas pelo bufão no horário político gratuito, mas sim princípios cristãos e competência intelectual. A distância dos números de votos que separam os dois (mais que o dobro), não é uma palhaçada, é na verdade, puro humor negro, de um povo fatigado e insatisfeito com uma classe conspurcada por sucessivos escândalos. Talvez nesse país, de fato, quem ri por último... ri melhor !
[1] O autor é Promotor de Justiça, professor de Direito, articulista, co-fundador e palestrante do Movimento Mariana Braga.