"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos"
UMBERTO ECO, in Barelli, Ed. Martins Fontes

Escravos do Tempo

domingo, 3 de janeiro de 2010

Você já sofreu ? Tá brincando né ?!?!

Cantando a dor mais bonita que existe, Marisa Monte dispara: A dor é de quem tem !  Quer verdade maior? E não é só em relação à dor de cotovelo. Já percebeu como as pessoas tentam se compadecer de nossa dor, quando na verdade não são capazes de sentir nem metade de nossa expiação. Atire a primeira pedra quem não sofreu pelos filhos, nas mãos da perversa privação, ou até mesmo de saudade de alguém que se foi antes da hora. Por que no mundo de hoje sofremos tanto? Porque banalizamos o “sofrer”. Tenho um que sentencia: existem apenas dois tipos de pessoas nesse mundão... as que acham que sofrem e as que realmente sofrem. Conseqüência disso é que quando padecemos por conta da uma dor física intensa, pela morte de um dos nossos, ou algo que valha realmente ser pranteado, teremos a fria comprovação de que os outros vão nos acolher e consolar como se estivéssemos sofrendo corriqueiramente... aí sim... a dor é só nossa... de mais ninguém! O próprio Drummond nos ensinou que a educação para o sofrimento, evitaria senti-lo, em relação a casos que não o merecem. Educação? Como se aprende a sofrer? A proliferação de livros de auto-ajuda estão longe de conseguir engarrafar a fórmula da felicidade durável, até porque, ela não existe, já que o aflição é o condimento da vida. Sofrer nos aproxima de Deus na mesma proporção que a prosperidade nos afasta. A única coisa que descobri sofrendo, pelos filhos, pelas injustiças, pela incompreensão e pela solidão, é que não conseguimos evitar 100% o sofrimento, mas podemos tomar atitudes que o mantém distante, como deixar de lado a Idéia de que necessitamos sempre ter razão ou devemos alcançar o sucesso em tudo. Antigamente pelas ruas existiam mais terrenos baldios palco de peladas nas quais o único perna de pau era o dono da bola. Nada de disputa desenfreada. Pelas mesmas ruas circulavam charretes entregando um leite mais grosso e gostoso ou verduras sem agrotóxico. Minha maior preocupação naquele tempo era dar de cara no banheiro da escola com uma loira que trazia algodão no nariz (aí se encontro hoje uma loira no banheiro rssss). O refrigerante que hoje encontramos até em posto de gasolina era um prêmio, consumido apenas nos finais de semana, ainda assim depois de irmos até o mercado com um vasilhame. Dentro de casa a TV não sintonizava, mas “pegava” menos de uma dezena de canais, mas as famílias assistiam juntas e estavam longe de ser um conjunto de pessoas cujo único vínculo é a chave da mesma casa. Na cozinha se passava um café em um coador de pano, cujo cheiro alcançava até a sala onde um aparelho três-em-um era nosso “gadget”. Nessas “modernidades” tocava-se aquelas bolachonas ou fitas cassetes que quando mastigadas exigiam ser enroladas novamente nos dedos. Na sala um único telefone ainda tinha fio e devido ao seu peso me servia como arma perfeita contra minha irmã. Se o seu filho estivesse no quarto dele e você no seu escritório, você dava um berro pra chamá-lo ao invés de mandar um e-mail ou um recado pelo MSN. Tudo era mais demorado, mais difícil, mais trabalhoso...mas convenhamos...mais prazeroso. Alguém pode me explicar porque hoje engolimos o almoço às pressas ou somos obrigados a decorar mais de uma dezena de senhas. Quando foi que deixamos de sentar nas cadeiras de fio na varanda ? Porque estamos sempre atrasados se nossos carros são mais velozes? Quando vamos enxergar que a felicidade é valorizada somente pelos que experimentam privação ou dor ? Pois é justamente na saudade que aquilatamos a companhia de um amigo... é a dor corporal que nos faz valorizar a saúde... é a fome que realça a saciedade...é a escuridão que enaltece a luz. Aos que nunca sofreram verdadeiramente (e não falo de unha encravada, errar a pedida no restaurante ou ganhar o cd do Wando no amigo-secreto) advirto: vocês não sabem de nada, aliás ignoram-se a si mesmo, porém, mesmo na pior das situações  devemos lembrar que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional, e destarte, se você quer ser feliz, o problema é de Deus, mas se você quer ser infeliz, o problema é seu ! Carpe diem !

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