"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos"
UMBERTO ECO, in Barelli, Ed. Martins Fontes

Escravos do Tempo

domingo, 3 de janeiro de 2010

Política é lixo ???

No antigo teatro ático, os atores, para serem vistos pela numerosa porém distante platéia, utilizavam-se de enormes máscaras, chamadas pelos gregos de persona. Se representassem uma tragédia, os traços eram horripilantes, comédias, expressões hilariantes. As emoções eram acintosas para que não houvesse dúvida do que se passava no íntimo daqueles que interpretavam. Definitivamente não é isso que vemos em Brasília. Aliás, somente um covarde quedar-se-ia inerte diante das últimas fanfarrices dos congressistas. O “teflon” Sarney (nada gruda nele) a virar o ano ileso conseguiu cuspir na cara de todo brasileiro. Charles de Gaulle estava certo quando sentenciou que a política é um assunto demasiadamente sério para se deixar tão somente na mão dos políticos. Diante de tantos escândalos, torna-se vítima de sua própria desídia aqueles de nós que busca neutralidade diante do processo eleitoral da escolha. Como lógica conseqüência de escolhas inconseqüentes vem o desapontamento e reclames que se estendem por todo o intervalo entre as eleições. Tudo bem que essa crise de representação não é exclusividade de nossa nação, ela impregna todo o cenário político sul americano, com fortes doses de caudilhismo e incredulidade, porém para piorar ainda mais constatamos que sob tal enfoque, nenhuma perspectiva de mudança se avista. Partindo da premissa que cada vez mais pessoas confundem política com astúcia pergunto (e respondo): O que podemos fazer diante de tantas mazelas? Podemos exigir vergonha na cara dos que aí estão (e a imprensa o faz com maestria). Devemos selecionar políticos capazes de desgastar-se pelas necessidades do seu povo pois quando isso não ocorre a sociedade desanima e o descrédito leva à perda de legitimidade da própria política e seus protagonistas. Pior: assusta e afasta as novas gerações. Como professor universitário sempre adverti o alunado que a sina daqueles que se colocam em posição de defesa em relação à política porca e broxante é, justamente, ser conduzido pelos que dela participam e gostam. Trocar a sensatez da escolha pelo impulso não pensado é fechar os olhos para as mazelas administrativas e acolher passivamente a disparidade social. É deixar de perceber que, quando o bem comum está em jogo, uma indolência geral predomina, mas quando tratamos de interesses individuais, familiares ou setoriais, a indiferença e descaso, que usam Brasília como palco, sucumbe à luta pela melhor fatia. Até meu filho de 10 anos sabe que o embuste sempre foi a base do sistema político, mas nunca a verdade foi tão aviltada face a sua impotência. Se você concorda que “O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos.” Saiba que você está aderindo a um desabafo que Eça escreveu a exatos 138 anos atrás... e o que aí está ?  Vai mudar hoje por quê ?

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